Desde o princípio da criação, o ser humano foi feito por amor, para amar e ser amado. O próprio Deus é amor (1Jo 4,8), e esse amor se manifesta em diferentes formas ao longo da vida humana. Em um mundo onde o ódio, a indiferença e o egoísmo parecem ganhar força, o amor cristão continua sendo a luz que resiste às trevas, o remédio que cura feridas profundas, e a ponte que reconcilia o que foi separado. Mas, para compreender como o amor pode vencer todas as coisas, é preciso mergulhar nas três expressões clássicas do amor segundo a tradição grega e cristã: eros, filéô e ágape.
1. Eros: o amor que deseja
O amor eros é o mais instintivo e humano dos três. É o amor que deseja, que busca a beleza, que atrai e é atraído. É o amor entre homem e mulher, o amor romântico, o impulso natural que leva à união dos corpos, mas também pode abrir caminho para a união das almas. Não é um amor mau em si — ao contrário, foi criado por Deus. O problema está quando o eros é vivido de forma desordenada, quando se transforma em possessividade, em luxúria ou em idolatria do outro.
A fé cristã não rejeita o eros, mas o purifica. Em Cristo, o amor que deseja é chamado a se elevar, a ser mais do que desejo: é chamado à entrega, ao dom. Quando purificado, o eros se torna porta de entrada para um amor mais maduro e verdadeiro.
2. Filéô: o amor da amizade
O filéô é o amor da fraternidade e da amizade. É o amor entre irmãos, entre companheiros de jornada, entre amigos sinceros. É recíproco, é construído sobre a confiança, sobre o conhecimento mútuo e sobre a partilha da vida. Jesus, ao falar com os discípulos, disse: “Já não vos chamo servos, mas amigos” (Jo 15,15), elevando o filéô ao nível da comunhão com Deus.
Esse tipo de amor é precioso, pois ele constrói laços fortes na vida cristã. Ele nos ensina a cuidar uns dos outros, a perdoar, a caminhar juntos. É esse amor que une a comunidade, a família e a Igreja em torno de uma missão comum.
3. Ágape: o amor que se doa até o fim
Mas é o amor ágape que coroa todos os outros. Esse é o amor mais alto, o mais divino, o que brota do próprio coração de Deus. É o amor incondicional, que ama até quando não é amado. É o amor que perdoa os inimigos, que oferece a outra face, que morre na cruz por aqueles que o rejeitam.
Esse amor é loucura para o mundo (cf. 1Cor 1,18), mas é o poder de Deus para os que creem. Jesus Cristo é a encarnação plena do ágape: Ele não amou por interesse, não amou porque éramos dignos, mas porque o amor verdadeiro é dom, é graça, é decisão. O ágape é o amor que vence todas as coisas, porque não depende do outro, não depende das circunstâncias, mas nasce de uma escolha firme de amar, mesmo em meio à dor.
A Batalha entre Amor e Ódio
Na história humana e na alma de cada pessoa, trava-se uma batalha entre o amor e o ódio. O ódio é fruto do orgulho ferido, da injustiça sofrida, da ausência de Deus no coração. Ele destrói, corrompe, separa. Quando o homem rejeita o amor, abre espaço para o ódio — e este se manifesta em guerras, vinganças, divisões e rancores silenciosos que corroem por dentro.
Mas o amor cristão é resistência. Ele é mais forte que a morte (cf. Ct 8,6). O amor perdoa onde o ódio quer punir. O amor reconstrói onde o ódio destruiu. O amor ora por aqueles que perseguem, onde o ódio quer calar. O amor, mesmo ferido, permanece firme, como Cristo na cruz, que diante da dor extrema exclamou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
Essa é a vitória do amor: não uma vitória que impõe, mas que se entrega. Não uma vitória que domina, mas que serve. O amor cristão vence porque ele não morre — ele ressuscita. O amor é eterno, porque Deus é eterno, e Deus é amor.
Conclusão: Amar é um chamado, um caminho, uma missão
O cristão é chamado a viver todas as dimensões do amor: o eros purificado, o filéô fraterno e o ágape sacrificial. Cada uma tem seu lugar, sua beleza e sua missão. No mundo atual, onde tantos corações estão feridos, o testemunho do amor cristão é mais urgente do que nunca.
É amando que seremos luz. É perdoando que seremos sal da terra. É doando a vida que encontraremos a verdadeira vida. E, no fim de tudo, só o amor permanecerá (cf. 1Cor 13,13).