S. Paulo tem um ensinamento importante sobre o uso dos carismas nas reuniões da Igreja que podemos aplicar no contexto eclesial de nossas células, sobretudo ao falar da música na reunião.
Em primeiro lugar destaco o fator dom. A evangelização não se faz sem inspiração do alto, sem a moção do Espírito. O fato de uma pessoa ‘gostar de cantar’ não significa que possua o ministério de cantar. O mesmo se diz de alguém que é naturalmente falante… Quem disse que deve ser usado com o dom de pregar?
O brasileiro é por natureza animado e gosta de festa, de música, de dança. Tá na veia! É só juntar uns 5 ou 10, uma mesinha e algo pra beber que a música já rola solta…
Escrevendo aos cristãos de Éfeso, o apóstolo disse: “Não se embriaguem, pois a bebida levará vocês à desgraça; mas encham-se do Espírito de Deus. Animem uns aos outros com SALMOS, HINOS e CANÇÕES ESPIRITUAIS. Cantem, de todo o coração, hinos e salmos ao Senhor….” (5,18-19).
Vamos considerar alguns pontos:
1. O efeito embriaguez: o embriagado age abaixo de sua razão e pode ser capaz de coisas que até Deus duvida. Já a pessoa cheia do Espírito age acima de sua razão e condição natural, realizando algo que jamais faria com suas próprias forças. É preciso revestir-se do Espírito para ministrar na reunião da célula, pois Dele vem a criatividade, a coragem e a unção para edificar cada irmão presente;
2. Animem uns aos outros: quem lidera o louvor possui uma graça de animar. Animação, contudo, não é divertir a turma, fazer brincadeira e levantar poeira. Animação não é coreografia… Barnabé possuía o dom de animar (cf. At 11,23), e isso foi descrito assim: “Aquele que dá ânimo” (At 4,36-37). Ânimo aqui é alma, a vida de Deus e Sua presença consoladora, perdoadora, confortadora, a presença que transforma e sara. Música não pode ser passa tempo na reunião, mas momento de ministrar aos corações a Palavra;
3. Com salmos, hinos e canções espirituais: esse deve ser o conteúdo de nosso louvor e adoração na reunião da célula. Muita gente confunde música religiosa com hino e canção espiritual, mas são coisas distintas. Assim como na Santa Missa não podemos executar qualquer música em função do objetivo maior da liturgia – mesmo que a música seja de um padre, tocada diariamente no rádio, Tv, Internet –, na reunião de célula não podemos utilizar qualquer canção.
Quando Paulo fala da música ele ressalta: cantem AO Senhor. Aqui está um ponto de discernimento: quando selecionamos os cânticos, prestamos atenção a esse detalhe? Nossa música se destina AO Senhor ou ÀS pessoas? Qual é a nossa postura espiritual e física ao cantar?
Não basta uma melodia gostosa ou um ritmo quente, a música deve ser uma ponte para Deus, uma verdadeira oração com expressão musical. Não é apresentação musical, é celebração ao Senhor. Enquanto no Encontro nos deparamos uns com os outros, na Exaltação nos focamos em Cristo, a fim de ter o coração preparado pelo Seu Espírito e então receber a Palavra na Edificação.
O líder deve ministrar ou delegar tal função a quem tenha dom, e essa(s) pessoa(s) deve(m) ter clareza quanto ao propósito da Exaltação, se preparando antes da reunião com oração pessoal, breve ensaio, adaptação do tom aos demais, providenciando folha de cântico etc.
A improvisação mata a vida da célula com escolhas mal feitas, músicas sem nexo, um monte de música só pra “encher lingüiça” (por falta de uma legítima expressão de adoração e direcionamento para conduzir os irmãos à Presença), e falta de sensibilidade na hora passar do Encontro pra Exaltação e dessa pra Edificação (atropelando tudo ou tornando o momento formal demais e chato).
Mesmo que a célula não disponha de alguém que toque um instrumento, utilizando cd’s pode muito bem estimular sua oração, desde que os cuidados acima mencionados sejam considerados.
Por Cesar Machado Lima