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Amizade “Oikós”: mais que servos, uma família de amigos

“Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu tornei conhecido a vocês.” (João 15,15)

Jesus, no coração desse versículo, nos revela um dos gestos mais belos de sua missão: a elevação da relação com os discípulos a uma dimensão de intimidade e confiança. Ele rompe o padrão da autoridade distante e propõe algo radical para sua época — e para a nossa também: uma amizade verdadeira, fundamentada na transparência, partilha e amor.

A palavra grega “oikós” significa “casa”, “família”, “lar”. No contexto do Evangelho, podemos entender essa amizade como algo que ultrapassa o convívio superficial e funcional. Jesus não nos trata como meros instrumentos de um propósito, mas nos insere em seu lar espiritual, no círculo íntimo de sua relação com o Pai. Ele nos chama para dentro da sua casa — e nesse lar, amigo é mais que vínculo afetivo: é parte da família.

Na cultura bíblica, o servo servia à casa, mas não pertencia a ela. Já o amigo, esse pertence. “Oikós” é o espaço onde se compartilham segredos, dores, alegrias e missão. E Jesus diz: “tudo o que ouvi de meu Pai eu tornei conhecido a vocês”. Isso é amizade no nível mais profundo: confiança plena, revelação do coração, convivência no amor.

Hoje, somos convidados a viver essa amizade “oikós” com Cristo. Não uma fé de dever, frieza ou distância. Mas uma fé aquecida pela presença, moldada pela convivência com Aquele que nos chama de amigos. E, mais ainda, somos chamados a construir esse mesmo “lar de amizade” uns com os outros. Ser amigo, à maneira de Jesus, é acolher, ouvir, partilhar, perdoar e caminhar juntos, como irmãos da mesma casa.

Que saibamos reconhecer o valor dessa amizade que nos foi ofertada, e que tenhamos a coragem de oferecê-la também ao próximo — com a ternura e a fidelidade do Amigo que não nos chamou servos, mas filhos e irmãos de seu “oikós”.