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Células Paroquiais: um novo método de evangelização

Publicado em quinta, 03 abril 2014 15:12

Escrito por Miguel Cotrim

Mario Saint Pierre | Apesar das Células Paroquiais de Evangelização não terem tido tanto sucesso nalguns países da Europa, ao contrário da China, onde já houve mais de 400 mil conversões, o Padre Mário Saint Pierre acredita na eficácia deste instrumento como forma de renovação de toda a Igreja.
A ideia está na constituição de pequenas comunidades de discípulos/missionários, à semelhança das primeiras comunidades cristãs. A mensagem é a mesma, o que muda é talvez a nossa forma de vivermos e comunicarmos a fé em Jesus Cristo. Trata-se do nosso oikos ou melhor o ambiente, casa, trabalho, comunidade onde nos inserimos.

A Paróquia de São João Baptista acolheu nos dias 28 e 29 de Março, o Padre Mário Saint Pierre, um dos grandes “especialistas” das Células Paroquiais de Evangelização, pelo mundo, que veio falar a leigos e padres interessados sobre esta técnica. “Tem-se revelado enormemente fecunda, pois os cristãos crescem na maturidade espiritual, tornando-se evangelizadores, fazem crescer a comunidade paroquial e, com ela, também a Igreja”, explica o Padre Jorge Santos, responsável pela implementação deste novo instrumento em Portugal.

Com um método de primeiro anúncio, seja o Alpha ou os Cursos de Cristandade, e agora com as Células Paroquiais de Evangelização, qualquer paróquia pode realizar aquilo que diz o Papa Francisco; a necessidade não só de termos acções missionárias mas sobretudo de estarmos em estado permanente de Missão, isto é, a fazer com que toda a vida pastoral da paróquia funcione em “chave missionária”. Acerca da utilização de métodos diz também o papa no n.º 33 da sua Exortação Apostólica: “uma identificação dos fins, sem uma condigna busca comunitária dos meios para os alcançar, está condenada a traduzir-se em mera fantasia”. Por isso, diz ele: Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objectivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades. Não basta termos o desejo de evangelizar é preciso pensarmos no “como” e definirmos um método consistente que prepare os líderes e os ajude a levar a bom termo a Missão da Igreja.

Para o Padre do Québec, Mário Saint Pierre, tudo depende da nossa “visão”. “Um crente que cresça e não se multiplique, morre”, adverte no início da sua conferência. Fazendo referência ao Actos dos Apóstolos e às Cartas de S. Paulo, o sacerdote foi explicando a importância das células paroquiais como instrumento de evangelização nas comunidades. Mario Saint Pierre (3)A evangelização exige dos crentes um compromisso. “Não se entra só com o dedo mendinho, mas com todo o ser”, refere o sacerdote.
Para Mário Saint Pierre, estudamos a Palavra de Deus como acontecimento do passado, temos que procurar um método histórico-crítico, de forma a compreender o texto e actualizá-lo para os dias de hoje.
Fazendo referência a Bento XVI, o sacerdote reconhece que a Palavra de Deus também transforma, cura e faz crescer na graça do Senhor.
“Para Paulo, levar à plena realização da Palavra de Deus é actualizar e aplicar a Palavra para o nascimento e o crescimento e a multiplicação da comunidade” refere o especialista das Células Paroquiais, onde defende um plano de acção para cada comunidade.
Ao fazer uma leitura da comunidade de Éfeso, criada por S. Paulo, Mário Saint Pierre, explica que o apóstolo tinha adquirido uma grande maturidade pastoral que lhe permitiu aplicar alguns princípios pastorais, numa determinada visão, formando líderes de comunidades.
A fundação da Igreja de Éfeso, deve-se, segundo Mário Saint Pierre, a três princípios: Evangelização do Oikos (espaço, ambiente onde o evangelizador se encontra); o princípio da imitação (acompanhamento um a um. Aqui, Paulo ganha consciência da necessidade da criação de líderes para poder dar resposta); Centralidade do Kerygma;
A grande questão é esta: podemos aplicar estes princípios nas nossas comunidades?

O conferencista interpelou os participantes sobre as dificuldades de evangelização das nossas comunidades. Comparou mesmo as nossas comunidades a uma maçã, que hoje não possui sementes, ou se possui, encontram-se esterilizadas. Porque não conseguimos evangelizar nas nossas famílias? Porque temos dificuldades em destruir barreiras?
Para Mário Saint Pierre, o Sistema de Células Paroquiais de Evangelização, são um grande meio de poder dar volta à situação. “É preciso redescobrir o ADN da evangelização”, explica-nos, à margem do encontro de formação.
Lança-nos três desafios: A evangelização nas relações já existentes; as células crescem e multiplicam-se e a formação de líderes.
Para as comunidades paroquiais que possuem por exemplo o Alpha, algumas não estão preparadas para acolher os novos convertidos. Faltam-nos saber acolher… As comunidades não conseguem por vezes acolher e fazê-los crescer. As células têm esta missão, refere o sacerdote que se encontra actualmente pela Europa a aplicar o sistema de Células Paroquiais de Evangelização.
Segundo Saint Pierre “é preciso acolher e preparar as comunidades” sublinhou o conferencista. Estais preparados para fazer uma Igreja em vossa casa? Fazei a lista do vosso oikos (daqueles que pretendem evangelizar) na vossa casa, no trabalho, no estudo, no lazer, etc.
A experiência de células é um meio de crescimento porque os seus membros estão em rede. As células são feitas para renascidos, novos cristãos, não se trata de fazer uma pastoral de manutenção, mas sim de evangelização.
As células paroquiais de evangelização têm se desenvolvido enormemente na China e no Brasil. Na China porque sendo uma religião proibida pelo regime, a evangelização tem tido a sua eficácia às escondidas das autoridades chinesas, nas casas e subterrâneos. No Brasil, as células têm crescido imenso pela facilidade do povo brasileiro em comunicar. Trata-se de uma questão cultural. No Québec e em França, o Padre Mário Saint Pierre reconhece as dificuldades, fruto de um individualismo acentuado. Para o sacerdote, “Deus é um Deus de relação. O amor constrói-se na relação.” Para que a Igreja cresça e se desenvolva ainda temos muito a fazer…

Por Miguel Cotrim