Um líder chamado Gideão (parte 2)
No primeiro post sobre Gideão, fiz questão de frisar características do seu perfil que automaticamente nos faz indagar a “lógica” de Deus quando chama Seus ungidos. Porém, estaria sendo extremamente injusto parando nisso. Escreveu Santo Efrém, diácono da Igreja do IV século: “A Palavra de Deus, diante das diversas percepções dos discípulos, oferece múltiplas facetas. O Senhor coloriu com muitos tons sua palavra; quem quiser conhecê-la, contemple-a do ângulo que lhe convier” (Ofício das Leituras, Liturgia das Horas, p. 585).
Sendo assim, hoje apresento outras facetas do perfil desse líder visionário chamado Gideão que, em primeiro lugar, é o escolhido do Senhor, fruto da oração de Israel (cf. Jz 6,7.11-12), homem escolhido mediante a aparição de um anjo.
A verdade é que no Reino de Deus ninguém se faz líder. Temos de compreender que por trás de tudo existe a mão do Senhor movendo a história e as circunstâncias, apontando para certas almas e concedendo-lhes uma missão específica (cf. Jo 5,31-32).
Gideão é, portanto, um eleito, alguém em quem Deus investiu Sua graça e insistiu até convencê-lo do Seu projeto. Só que no chamado há um confronto entre a visão de Deus e a visão do homem, ou seja, o modo como cada um vê a mesma situação. No caso de Gideão, Deus enxerga coragem e diz que está com Ele (cf. 6,12). Detalhe, o Senhor lhe diz: “Vá com toda a sua força…” (6,14).
Que força? A força de Gideão!? Sim, o Senhor não disse: Vá com toda a MINHA, mas com toda a SUA força. Trata-se de um mistério! O dom já estava plantado nele, a graça, o carisma, a missão, chame como queira chamar, tudo isso já era realidade em sua história, embora ele ainda ignorasse. A revelação se dá aos poucos… Gideão não vê, mas a visão do Senhor é tão superior que, antes da criação, viu-nos santos! (cf. Ef 1,4). Ele já enxergou lá adiante, porque Seus olhos são como fogo (cf. Ap 1,14).
Outro ponto que desejo mostrar em Gideão é a sua decisão pela causa divina. Assim como ele foi ousado em fazer pedidos a Deus, Este foi ousado ao lhe testar no vínculo mais profundo – que todos somos em algum momento da existência desafiados a superar –, o laço familiar! Deus mandou que ele sacrificasse o touro de seu pai e derrubasse o altar de Baal, levantando no mesmo lugar um altar a Ele (cf. 6,25ss).
Em outros termos, a missão sempre começa em casa. Deus pede o corte do cordão umbilical. De Abraão foi pedido: “Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa do seu pai…” (Gn 12,1). Esse rompimento comporta riscos, como possíveis divisões, perseguições, tensões; todo líder deve passar por esse teste, no qual Deus prova a fidelidade e exige um amor acima de qualquer outro amor, uma adesão integral.
Finalmente, proponho-lhe duas perguntas para reflexão e oração pessoal:
1) Você se enxerga como Deus te enxerga, ou ainda concebe uma visão distorcida acerca de quem é você? Pense e ore sobre isso, deixando o Espírito Santo trazer-lhe cura.
2) Quais são os ídolos que você precisa destronar no seu interior? Quais são os apegos, as muletas, os mimos? Diante do Senhor, qual é a sua resposta hoje?
Medite Mateus 8,18-22, ore e tome Gideão como modelo de adesão ao chamado.
Por Cesar M. Lima – Comunidade Fanuel