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O tripé da igreja em células

 

Escrevendo aos cristãos de Éfeso S. Paulo desenvolveu o tema do mistério da salvação e da Igreja (cf. Ef 1,1ss). Temos nessa carta dois momentos especiais. Na primeira parte, a exposição do mistério do plano da salvação, realizado em Cristo (capítulos 1 a 3), enquanto que na segunda uma exortação, chamando a Igreja à unidade (capítulos 4, 5 e 6).

Dentro de nossa reflexão sobre a comunidade em células, vamos nos ater à segunda parte, concentrando-nos mais precisamente no capítulo 4, onde logo de cara ele justifica o apelo à unidade trazendo-nos algumas definições da fé cristã: há um só corpo, um só Espírito, uma só vocação… (vs. 4-5).

A fonte dessa unidade outra não é senão o Deus único, apresentado na seqüência: “Há um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos” (v. 6). Exatamente nesse versículo fazemos uma parada necessária, já que contém uma grande revelação sobre o modo como Deus se relaciona conosco.

Acredito que a unidade almejada pelo apóstolo nos elementos supracitados, depende em muito dessa maneira como nos relacionamos com Deus. Ou seja, temos aqui um modelo de ser Igreja que se for bem assimilado pode nos levar à vivência dos maiores propósitos divinos: viver em comunhão e fazer missão.

Perceba que S. Paulo ensina que Deus está primeiramente sobre todos. Quer dizer que o Senhor está infinitamente acima de nós, dada a Sua santidade, beleza e majestade. Pensar nisso nos reporta ao nosso “dever e salvação” que é adorá-Lo com nossas vidas, em espírito e em verdade, o que fazemos, sobretudo no Santo Sacrifício da Missa, que é o ápice da vida cristã, isto é, o ponto mais alto de nossa fé.

Num segundo momento, S. Paulo ensina que o Senhor atua por meio de todos. Trata-se de um mistério fabuloso: o nosso Criador quis precisar de nós para cumprir a Sua obra na terra. Não precisava, pois é onipotente, mas fez-se carne e, morrendo por nós e dando-nos Seu Espírito, nos capacitou para darmos continuidade em Sua obra, fazendo de nós Seus embaixadores na terra, Seus discípulos missionários.

Por fim, ele mostra que Deus está em todos nós. Esta é a garantia de presença que o próprio Jesus, o Emanuel, já havia nos dado quando disse que estaria para sempre entre nós. De fato, Ele está perto de nós!

Ora, porque foi Deus quem escolheu esse modo de relacionar-se, evidentemente Ele espera que Sua Igreja viva isto intensamente, o que pode dar-se, concretamente nas celebrações, pastorais e células.

Celebrações – Nas celebrações nos encontramos para ouvir a Deus e glorificá-Lo, pois reconhecemos que não existe outro Deus além dEle e que Ele é a razão de nossas vidas. Este é o nosso culto dominical na Santa Missa, prática cristã que acompanha a Igreja há dois mil anos.

Ministérios – Nas pastorais, também conhecidas como ministérios, nos encontramos com os irmãos para que, por meio da soma dos dons que dEle recebemos, possamos servir as pessoas com o Evangelho. É o nosso gesto concreto de fé, o socorro dos necessitados, o anúncio da salvação, o exercício das virtudes cristãs. Esta estrutura pastoral acompanha a vida cristã, sobretudo dos leigos após o Concílio Vaticano II.

Células
– Finalmente, nas células, que são pequenas comunidades de amor fraterno e vida missionária, experimentamos a presença íntima de Cristo entre nós. Nesse ambiente familiar que é a célula temos mais possibilidades de sentir a presença do Senhor, seja na palavra de conforto que recebo do irmão, seja na oração que é mais objetiva em relação às minhas necessidades. O fato é que Jesus prometeu habitar Sua Igreja a partir dos pequenos grupos (cf. Mt 18,10; Mc 3,13-14), e a Igreja, desde o princípio se encontrava nas casas dos cristãos para a prática de sua fé (cf. At 2,46; 5,42; 20,20 etc.).

Se soubermos relacionar esses três eixos na vida de nossas comunidades, certamente daremos um grande salto de qualidade, crescendo em relacionamentos, em engajamento pastoral e em testemunho prático da vivência do Evangelho.

Finalmente, as células se formam não para apagar o que existe na comunidade (paroquial ou não), mas para acrescentar o que está faltando, a fim de que, completa em sua estrutura, essa comunidade possa dar sua contribuição na nova evangelização, devolvendo nos corações das pessoas o lugar que é de Deus.

Por Cesar Machado Lima