No Eclesiastes encontramos uma bela lição de vida em comunidade: “É melhor haver dois do que um, porque duas pessoas trabalhando juntas podem ganhar muito mais. Se uma delas cair, a outra a ajuda a se levantar (…); Dois homens podem resistir a um ataque que derrotaria um deles se estivesse sozinho. Uma corda de três cordões é difícil de arrebentar” (4,9-10. 12).
Uma pequena comunidade cristã é composta de algumas pessoas que se encontram semanalmente nos lares em torno da presença, do poder e dos propósitos de Cristo. Só que essa célula, por ser uma miniatura do corpo de Cristo, deve ter uma estrutura de corpo, que seja orgânica – onde todos trabalham, cada um com seu dom, pelo mesmo objetivo (cf. Rm 12,4-5), e hierárquica, com uma liderança madura que sirva e pastoreie cada discípulo (cf. Rm 12,8c).
É fundamental o papel da liderança na vida de uma célula. Ao falar de comunidade aos coríntios S. Paulo foi claro: “Na Igreja, Deus pôs tudo no lugar certo: em primeiro lugar, os apóstolos…” (1 Cor 12,27-28). Longe de querer comparar com esse texto a liderança de um leigo na célula com o ministério episcopal dos nossos bispos, quero apenas ressaltar a importância da cabeça no corpo, da liderança em uma comunidade, já que a Escritura fala desse ser orgânico e hierárquico da Igreja.
Para ser uma comunidade eclesial, a célula precisa de uma liderança concreta, que por sua vez esteja debaixo da cobertura espiritual de outra liderança, seja o pároco, o moderador geral de uma comunidade nova, o coordenador de um determinado movimento em células. Assim como não combina profetas solitários na Igreja, não podemos conceber células solitárias, independentes, autônomas, paralelas, nem tampouco células sem cabeça, sem líder, sem coordenação, desligadas de um corpo maior.
Em Hebreus 13,17 está escrito: “Obedeçam aos seus líderes e sigam as suas ordens, pois eles cuidam sempre das necessidades espirituais de vocês porque sabem que vão prestar contas disso a Deus…” (13,17). Líder é aquele que coloca a comunidade em ordem (cf. Tt 1,5). Igreja requer ordem (cf. 1 Cor 14,40).
Porém, no contexto das células, é extremamente válida a experiência de exercer esse ministério de liderança (pastoreio) a partir de um núcleo, uma pequena base em torno do líder. Ou seja, além de um líder ou um casal líder, a célula precisa ter outros irmãos como referência, como padrão aos demais.
Se não bastasse o Eclesiastes afirmar que é melhor haver dois do que um, concluiu aquele ensino ilustrando com a corda de três cordões, que é difícil de arrebentar. Esses dois ou três nos fazem lembrar das palavras de Jesus em Mateus 18, 20.
Era com um núcleo de três que Jesus costumava estar, orar, evangelizar, planejar. E essa experiência foi tão marcante para a Igreja primitiva que S. Paulo – mesmo não tendo conhecido Jesus em Seu ministério –, mais tarde fez questão de reportar-se ao “trio de ferro” deixado por Ele: “E conhecendo a graça a mim concedida, Tiago, Cefas e João, os notáveis tido como colunas, estenderam-nos a mão, a mim e a Barnabé, em sinal de comunhão: nós pregaríamos aos gentios e eles para a Circuncisão” (Gl 2, 9 – Bíblia de Jerusalém).
Finalizando, gostaria que você passasse a olhar para a vida e ministério de seus líderes segundo essa visão bíblica, seja você membro ou auxiliar de líder, seja líder de célula, de rede ou supervisor. Ore pelos seus superiores e seja submisso, ame seus subordinados e seja servo. Liderança é dom (cf. Rm 13,1).
Por Cesar Machado Lima